O que turistas e residentes acharam dos Jogos Olímpicos de Paris?
Em 2027, o Brasil sediará a Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino e entender a percepção de residentes e turistas sobre os Jogos Olímpicos, que acabaram de acontecer em Paris, pode somar em muito, não só para o Brasil, mas para próximas edições dos Jogos e, também, para todos os outros megaeventos esportivos que estão por vir.
Nosso último megaevento aconteceu em 2016, quando sediamos os Jogos Olímpicos de Verão, no Rio de Janeiro, e o seu legado foi visto como bem positivo para a cidade em termos de infraestrutura, serviços, transportes, meio ambiente, educação e esportes. A edição seguinte, Tokyo 2020, foi adiada para 2021, por conta dos efeitos da pandemia de COVID-19 e, em 2024, foi a vez de Paris. Partindo da experiência brasileira, um grupo de pesquisadoras da Unigranrio e da Unirio viu neste Jogos Olímpicos a oportunidade de dar continuidade aos estudos relacionados aos megaeventos esportivos e decidiu coletar dados sobre os Jogos em Paris.
O estudo analisou a percepção dos residentes de Paris, turistas domésticos e internacionais sobre os impactos do megaevento na cidade e a experiência de vivenciar a cidade e as competições. A investigação foi realizada por meio de coleta de dados face a face durante o período de realização do megaevento, tendo início em 5 de agosto e finalização em 11 de agosto, data do encerramento oficial dos Jogos. Ao todo, foram coletados 318 dados em pontos específicos da cidade de Paris que mais sofreram intervenções e que receberam as competições dos Jogos. A quantidade de entrevistados permitiu um nível de confiança (95%), com margem de erro de 5,5% para o levantamento realizado.
Percepção dos residentes em relação à cidade e aos impactos do megaevento e, a experiência nos Jogos
A grande maioria dos respondentes, 84,7% de turistas e residentes que participaram da pesquisa, acreditam que foi uma boa oportunidade para Paris sediar o megaevento. Dentre os entrevistados, 75,5% estavam participando dos Jogos Olímpicos pela primeira vez.
Segundo os respondentes, Paris é uma cidade lindíssima e tem capacidade de organizar bem os Jogos e atrair mais europeus de países vizinhos a participarem do megaevento, sendo também uma oportunidade melhorar a estrutura esportiva da cidade. Além disso, muitos acreditam que sediar os Jogos é bom para a imagem da cidade, para o reconhecimento internacional do destino, sendo também uma ótima ocasião para estimular a integração entre as culturas e a diversidade. “Este é um evento único, que as pessoas devem viver em algum momento na vida”, afirma um dos respondentes. “Além disso, é um evento que movimenta a economia e o turismo”, complementa.
Os Jogos representam um momento de união e valorizam o patrimônio histórico e a cultura, assim como o esporte. Ainda que a maior parte esteja relacionada aos aspectos positivos, alguns respondentes chamaram atenção para o preço que é muito caro, inclusive dos ingressos. E alguns respondentes também evidenciaram a questão ecológica e social. A segurança é um aspecto que divide opiniões e afeta a imagem de Paris de diferentes formas, tanto para residentes quanto para turistas. Em geral, 34,5% dos respondentes acreditam que a segurança afeta a imagem da cidade de forma positiva, para 39,1% de forma negativa e 26,2% não sabem avaliar.
Percepção dos residentes sobre o megaevento e os impactos percebidos
Para 44,6% dos respondentes que residem em Paris, os Jogos Olímpicos geraram algum tipo de impacto na região onde habitam. Dentre os principais impactos percebidos, destacam-se: fechamento de algumas ruas, maior número de pessoas utilizando transporte público, mais atividades relacionadas aos esportes, aumento do número de turistas, transporte público mais eficaz e maior número de eventos. Ao serem questionados sobre os impactos dos Jogos na rotina, os mais citados foram: aumento do trabalho em home office, mudanças de tráfego urbano e piora no trânsito da cidade. Para a maioria dos respondentes, (91,7%), os Jogos promoveram a atividade turística em Paris. 81,3% acreditam que os Jogos geraram novos postos de trabalho e para e 87,7%, foram percebidas melhorias de longo prazo para o esporte. Por outro lado, para 87,7%, houve aumento dos preços na cidade, devido a realização do megaevento.
Percepção e hábitos de viagem dos turistas domésticos (que habitam na França) e dos turistas internacionais (que residem fora do país)
Para 68,3% dos turistas que responderam a pesquisa, os Jogos Olímpicos foram a maior motivação para visita à cidade. Do total de turistas respondentes, 72,2% aproveitaram a viagem para realizar atividades turísticas em Paris. E 44,1% aproveitaram para visitar outros destinos no país, como Lyon, Normandia, Lille, Bordeaux, Disney, e países europeus, como Alemanha, Áustria, Croácia, Suíça, Holanda, Bélgica, República Checa, entre outros. Vale ressaltar que 21,4% visitaram a França pela primeira vez ao participar dos Jogos Olímpicos, sendo que para 16,0% esta foi a primeira visita a Paris. 76,3% realizaram pernoite em Paris e utilizaram como principal meio de hospedagem: casa de amigos e parentes (39,6%), hotel (37,4%) e Airbnb (16,5%). O principal meio de transporte utilizado para chegar a Paris foi o trem (41,9%), seguido do avião (29,9%) e do carro próprio (12,0%). A grande maioria fez a viagem nos seguintes modelos: acompanhado de familiares (24,6%), sozinho (23,7%), especificamente casais sem filhos (20,3%), amigos (16,9%) e casais com filhos (8,5%).
De forma geral, os turistas avaliaram muito bem os serviços na cidade, em especial em relação às opções de atividades de lazer, informações turísticas e aeroportos, para aqueles que o utilizaram, é claro. A limpeza da cidade e as opções de hospedagem também foram bem avaliadas. O maior nível de satisfação em Paris (entre bom e muito bom) foi relacionado às opções de recreação e turismo (92,2%), informações turísticas (88,9%), aeroportos (85,5%), serviço e hospitalidade (84,9%), seguido de acomodação (72%) e limpeza (71,1%). Os dados apontam que os locais de competição e o acesso a eles foram muito bem avaliados pelos turistas, já os preços e a qualidade dos alimentos ofertados, nem tanto.
Sugestões para eventos futuros
A partir da pesquisa realizada, sugere-se que sejam feitas melhorias em diferentes frentes. Atenção especial a segurança, tanto aos turistas como aos residentes. Mobilidade e integração são requisitos básicos para uma experiência completa. E mais do que isso, eficiência na comunicação, pois muitas são as mudanças de trânsito e rotina, antes durante e após o megaevento.
Sugere-se ainda que se ofereçam alimentos de melhor qualidade e a um preço mais acessível nos estádios. Este é um tópico que precisamos olhar com mais cuidado. Além do preço, a qualidade. Afinal, estamos falando de um evento esportivo. E esporte remete a saúde. Como pode-se aceitar em não ofertar alimentação de qualidade nas áreas de competição olímpica? Não falamos apenas pelos atletas, mas como uma oportunidade para se estimular a alimentação saudável e inclusiva, e em especial com mensagens associadas ao megaevento que cuide da saúde. Além disso, o preço é algo que precisa ser mais responsável e inclusivo, afirmam as pesquisadoras envolvidas no estudo.
Vale ressaltar que a expectativa da FIFA é que a Copa do Mundo Feminina de 2027 envolva o maior número de seleções na história, e neste sentido, há de se pensar na atuação das mulheres dentro e fora dos campos. Quem sabe, uma ótima oportunidade para se trabalhar os objetivos de desenvolvimento sustentável proposto pela Agenda 2030. Até porque a pauta de inclusão e diversidade merece ir muito além dos gramados. Antes, durante e após o evento. Afinal, 2027 já está logo ali!
Pesquisadores responsáveis
A pesquisa foi realizada pelo Núcleo de Pesquisa em Turismo da Unigranrio, composto pelas pesquisadoras Paola Lohmann e Kaarina Virkki, em parceria com o Grupo Turismo e Geograficidades da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), liderado pelas professoras Maria Jaqueline Elicher, Bruna Conti, Joice Lavandoski, além da colaboração da pesquisadora que realizou a coleta de dados na França, Maria Vitória Alentejano, e do estatístico Marco Bouzada, da Unigranrio.